quarta-feira, 10 de novembro de 2021

 

Viajar teu corpo

 

Numa noite de luar, calma e serena
Olhei teu rosto a vez primeira
Os olhos, o cabelo, a tez morena
Gravaram-se em mim prá vida inteira

Como apagar-te agora? Santo Deus!
Como lavar de mim a tua imagem?
Como esquecer, sabor dos lábios teus
E o teu cheiro amor? Ai! Doce aragem

Se eu pudesse ir ao teu mar e me perder
Uma viagem só ida, sem retorno
Navegar teu corpo meigo e morno

Nessa paixão me consumir, morrer
Em lume brando e mesmo assim arder
Cremado em labaredas nesse forno

 

Guta Santos-------13/7/2010

 

 

VALSINHA DA AMIZADE

 

DO SONHO QUE ATRAZ FICOU

INDA NOS RESTA A SAUDADE

RELEMBRAR O QUE FICOU

NO CONVÍVIO DA AMIZADE

 

OUVIR CANTAR UM FADINHO

UM POEMA E MUITO MAIS

ALMOÇAR NUM BOM CANTINHO

JUNTO DE AMIGOS LEAIS

 

 

 

REFRÃO

 

AMIZADE, AMIZADE

OU SENTIMENTOS IGUAIS

SÃO COMO OUTONO EM FLOR

E OUTRA FORMA DE AMOR

É TER AMIGOS LEAIS

 

 

 

TER VONTADE DE VIVER

DE TER SEIVA, TER RAIZ

TER MUITO MAIS E SABER

CONVIVER E SER FELIZ

 

DAR-SE DE ALMA E CORAÇÃO

DAR-SE INTEIRO E TER VAIDADE

DE A TODOS ESTENDER A MÃO

NUM CONVIVIO DE AMIZADE

 

 

REFRÃO

AMIZADE, AMIZADE……………

…………………………………………….

 

 

 

Letra e musica de   GUTA SANTOS

14-04-2010

 

 

 

 

Vale a pena perdoar

Guta Santos

 

 

Vai terminar meu calvário

Ao longe no campanário

Soa sexta badalada

Volta para casa o devasso

De mansinho passo a passo

Sobe descalço a calçada

 

Abre a porta sem ruído

Com medo de ser ouvido

Pela parva que está deitada

Tropeça atropela a cama

Do ciúme apago a chama

E finjo não dar por nada

 

Depois deitasse a meu lado

Sinto seu corpo gelado

Suspirou e adormeceu

Onde andou ? Sei muito bem

Mas a outra que ele tem

Nem sequer o aqueceu

 

Está magro, mal encarado

Cheira a noitada e a fado

Mas é tão lindo o estupor

Perdoar a quem se ama

Manter acesa essa chama

Não é fraqueza, é amor

 

Sou parva, mas que fazer?

Meu amor faz-me sofrer

Pode não valer vintém

Não me bate, não é bruto

Depois, lavado e enxuto

Está novo, que mal tem

 

GUTA SANTOS - Março  de 2008

 

 

UM DIA QUANDO EU MORRER

 

Um dia quando eu morrer

Toda a gente vai dizer:

Era um excelente rapaz!

Vão gabar-me as atitudes

E muita gente é capaz

Até de inventar virtudes

 

Sabem que depois de mortos

Não temos defeitos tortos…

E a merda que a gente faz

Já ninguém quer recordar.

É que a trampa dos defuntos

As rosas deve cheirar

 

Deitado no meu caixão

Vai ser grande a reinação

Ao ouvir alguém chorar

Por um estupor como eu era

É giro e mereceu a espera

Vou rir até me fartar

 

Só por isso, podem crer

Valeu a pena morrer.

E nem quero a extrema-unção

Agarrem no meu caixão

Comecem a cremação

Que eu preciso é de aquecer

 

 

 

 

Guta Santos...17/9/2020

 

 

UM ANJO OU UM DEMÓNIO ?

Julguei ouvir, a voz de um anjo alado

E ali fiquei, escutando o som divino

Suave e doce, sereno som imaculado

Só podias ser tu, meu fado e meu destino

Ias vestida de nuvens, suave…uma miragem

Caí a teus pés, chorei …e ali fiquei enamorado

Ai!...porque duvido eu, se era aquela a tua imagem

 

 

 

 

O QUE É A VIDA, SENÃO UM PINTOR NEGRO

TU E EU NADA PINTÁMOS

NEM PEDIMOS P´RA NASCER!

FOI DEUS QUEM NOS FEZ?

SÓ NÃO ENTENDO, PORQUÊ! MAUS, INTOLERATES, GANANCIOSOS

PORQUE PERMITE ELE BÉBES DESFEITUOSOS?

PORQUE TUDO DÁ A UNS, E A OUTROS NADA

PORQUÊ, PORQUE TANTA DESGRAÇA ASSOLA O MUNDO?

PORQUÊ, PORQUÊ, PORQUÊ?

PORQUE MORREM PEREGRINOS NA ESTRADA,

IAM SÓ CUMPRIR SUA PROMESSA

NÃO FOI UMA TRAIÇÃO À SUA FÉ?

PORQUE DEIXOU DEUS MORRER NA CRUZ, O PRÓPRIO FILHO?

PARA NOS SALVAR?...SALVAR DE QUÊ?

PARA NOS OBRIGAR A VIVER NESTE MUNDO QUE CRIOU?

PARA NOS CONDENAR A ESTE INFERNO IMUNDO?

SOU APENAS UM MORTAL, MAS NÃO FARIA TAL MALDADE.

NÃO É OMNIPRESENTE?... ENTÃO NÃO DIGA QUE NÃO VÊ

NÃO É OMNIPOTENTE?  POR FAVOR NÃO BRINQUE COM A GENTE

SE VÊ E PODE, PORQUE NADA FAZ, AGORA, QUE É URGENTE!!

TENHO PENA, DE SER UM ZÉ NINGUEM, INSIGNIFICANTE

AI! SE EU NUM OLHAR TUDO EXERGASSE

SE NUM GESTO MEU TUDO MUDASSE

AI!... SE FOSSE MEU UM TAL PODER…

JURO!... POR QUALQUER DEUS!

QUE TORNARIA ESTE MUNDO BEM DIFERENTE

 

Guta Santos

 

 

TARDE NA PRAIA

                                               GUTA SANTOS

 

 

 

 

O Sol no mar reflectido

Tinge de oiro a branca espuma

De majestosas ondas altaneiras

Viajando de longe e uma a uma

Vão rebentar na praia, fragorosas

Abafando na areia o seu rugido

 

Enquanto a tarde cai e a luz se esfuma

Meus braços nos teus braços são cadeias

Grilhetas de almas misteriosas

Tementes de se verem separadas

 

Suave nos afaga a brisa amena

   A sede matei em tuas lágrimas

Regatos de água cristalina

Dolorosa visão de dores sentidas

 

Meu remorso, meu pecado, minha vida

O mar salgado...imenso, testemunha

Minha ventura da morte renascida

Ai! Um amor assim nem eu supunha

 

Reclino a cabeça no teu peito

No teu regaço afogo os meus segredos

Enquanto o coração, quase de dor desfeito

Bate feliz, esquecendo horrores e medos

 

De tudo antes descrentes, já sem fé

Vão meus lábios os teus lábios procurando

Como náufragos perdidos na maré

A ilha salvadora vão buscando

 

O teu olhar gaiato desatina

Acorda a minha carne, os meus desejos

Que o pudor à saudade nos condena

E resta para amar, ardentes beijos

.

O mar afaga a areia suspirando

Orgulhoso do amor que abençoou

Nas suas verdes águas embalando

Os sonhos de uma tarde que findou

 

                         SEXY

 

As ancas meneando

Em ondas ritmadas,

Em tremeliques nervosos...

de pudim.

 

Nos homens provocando

Lúbricos olhares gulosos.

Airosa, enfatuada,

Com tiques de arlequim.

 

Poluindo os ares

Usando essências caras

Compradas em “boutique

No preço nem reparas

Porque é chique

E pagas...que sei eu?

Com furos de cinto

 

Visão encantadora

Dengosa, provocante

Dos suspiros melosos de romeu    

Por cima, triunfante,

Garbosa, sedutora,

Por baixo...Deus do Céu...

 

Eu sei amor,

Que o salário pifou,

Foram-se as lecas

A massa não chegou

Para cuecas.

 

 

 

             GUTA SANTOS

 

 

Se és amigo, o meu dever

     É convidar-te a entrar

Podes comer e beber

Só não podes é fumar

 

Este carro é muito antigo

A bronquite é seu fadário

Não fumes se és seu amigo

Não piores o seu calvário

 

Para o corpo perfumar

Usas Dior divinal

Mas depois, pões-te a fumar

E ficas a cheirar mal

 

 

 

«SE DEUS EXISTE»

 

        «Paizinho, Paizinho. Hoje é Natal!?

Foi este o grito alegre e cristalino

Que brotou espontâneo, alegre e natural

Como sino de aldeia matutino.

«Que me deu desta vez o bom menino?

Quem me dera que fosse aquele barco grande...

Ou...Mesmo aquele...Assim…mais pequenino!»

 

Tenaz onda de dor meu corpo invade,

Quentes lágrimas, da face deslizando,

Abandonam meus olhos com saudade.

 

Em frente a mim, atónito, pasmado

No rostinho traindo um fundo espanto

Suas mãozinhas aperta magoado

          Sem atinar com a razão deste meu pranto,

Meu filho quase chora e fica ali parado.

 

Meu é filho é feliz. Tem pai, tem mãe.

Tem ainda esperança e fé no Deus Menino

Mas quantos por ai há que nada tem

Vítimas do Mundo ou do destino.

 

Que razão condenou tanto inocente,

Que pecado mereceu tal desamor?!

“Se há no Universo um Deus omnipotente,

Que lhes dê neste dia paz e amor!

 

.                                                                  

           GUTA SANTOS   «Todos os Natais»

 

RETROCESSO              GUTA SANTOS

                                                                                                                                 1964

 

 

 

Quão fútil és humanidade

Tão mal empregas teu dom de racional

Tirana, egoísta, maldosa, brutal

A inveja à disputa com a vaidade

 

A ganância de garras afiadas

Descansa a fronte nos seios da luxuria

Seus beiços, escorrendo babas destiladas

Nos alambiques da miséria e da incúria

 

Mulheres nuas desvariam políticos bem vestidos

Estoiram bombas escandalosas, revelam-se segredos

Alvas carecas senis e desdentados

Rematam em leilão, a honra dos estados.

 

Em recepções, festanças, em banquetes

Dão-se fraternais abraços venenosos.

Alargando as bochechas em sorrisos

Falam de paz em miados talentosos.

Enchendo seus ventres asquerosos

Assinam pactos, exaltam alianças,

Prometem vastos mundos de abastanças

Alimentam ódios, semeiam esperanças,

Ordenam sem rebuço vãs matanças,

Bebem sangue quente em belas taças

Comem carne humana em pratos de oiro...

Escarnecem povos, credos raças.

 

Aves de mau agoiro,

Que lá do seu poleiro

Fomentam ou sufocam revoluções

Por sadismo, ambição, dinheiro.

Erguem ou destroçam as nações

Levando guerra e morte ao mundo inteiro

Indiferentes, esfrangalham corações.

Óh! Humanidade decadente

Tuas chagas e feridas são eternas

Só tornarás um dia a ser decente,

Se voltares novamente prás cavernas.

 

,

 

REFLEXO    

                                                                    GUTA SANTOS

 

 

No lago cristalino de teus olhos

Vi reflectido o meu olhar

Vi cisnes brancos, vi abrolhos

E um raiozinho prateado de luar

Vi esperanças, vi promessas de ternura

Vi afagos, vi carinhos, vi amor

Vi-te de noiva vestida, branca e pura

Mas o rosto reflectia mágoa e dor

 

O noivo que ali esperas...não sou eu

Nem serão de meus lábios os teus beijos

Nem o amor porque que anseias é o meu

O destino trocou nossos desejos

 

O lago cristalino dos teus olhos

É agora um mar encapelado

Eriçado de angústia, dor, escolhos

Onde o barco do amor está encalhado

 

Jamais terei teu corpo nos meus braços

Jamais terei na minha a tua mão

Até os sonhos...! Voaram em pedaços

Sabendo bem que é meu teu coração

 

Vai amor! Mas deixa-me sonhar

O sonho derradeiro, o último desejo:

Enlaçados num só em noite de luar

Despedir-me de ti num longo beijo

 

 

 

 

Quero ser Livre

                                                 

                                                  Nasci menino pobre

Pé descalço

Remendos nos fundilhos

Com a saquita de trapo

Fui á escola

Centro Republicano

Em casa nobre

Escola-creche

E mãe de muitos filhos

 

Rapaz fui trabalhar

A forja espera

Os pelos do bigode

Já despontam

“Sinais de Primavera,

Sexo, amor

 

O malho bate forte

Na arte de moldar

Pesado, vai e  tor na

A fronte já goteja

Lágrimas salgadas de suor

Que tombam respingando

Na bigorna

 

À força de malhar

Tornei-me um homem

Casei, criei um filho

Ergui um lar

Devo tudo à força do meu braço

Da minha companheira

Do nosso amor

 

Por eles lutarei

Por eles matarei

 

Escolhi uma das faces do dilema:

Não deixo a liberdade ao abandono

O punho cerrarei como emblema

Sou livre, independente,

De mim sou o senhor

E ninguém consegue friamente

Impor-me um dono.

 

 

QUEM SOU  (Triplicado)

 

Esta noite não dormi

Cansei de esperar por ti,

Já farta fui-me deitar

Ajeitei a almofada

Nela a cabeça deitada

E dei comigo a pensar

 

Mas quem sou eu afinal?

De resposta nem sinal

Nem a mim sei responder

Doí-me tanta ignorância

Sei apenas que a distância

Entre nós me fez sofrer

 

Sou para ti uma qualquer

Uma sombra de mulher    

Para não levar a sério

Um fado triste, sem chama

Deitado naquela cama

Sem romantismo ou mistério

 

Amanhã é outro dia

O Sol será meu guia

Minha vida vai mudar

Começo por te esquecer

Não me voltes a aparecer

Que eu por ti não vou esperar

 

Letra-----GUTA SANTOS 21/04/2021

 

 

 

 

 

QUEM CANTA O FADO MENOR

 

Cantar o fado menor

Com sentimento profundo

É como lavar a dor

E as tristezas deste mundo

 

Não é vergonha chorar

Ao viver amargurado

Pode fazer-se a cantar

Contando a outros seu fado

 

Cantar amor e ciúme

Ter vergonha, ninguém deve

Soltar no ar um queixume

Que o vento para longe leve

 

Ter um grito estrangulado

Apertado na garganta

É ao soltá-lo que o fado

Lava a alma de quem canta

 

 

GUTA  SANTOS—Janeiro 2008

 

 

 

 

Que saudades do tempo em que eu era puto

Das brincadeiras com malta da minha idade

Eramos reis de um poder absoluto

Que raramente descambava para a maldade

 

 

 

 

POENTE DE AMOR

 

 

 

No horizonte fatal da minha vida

O Sol vai-se pondo docemente

E eu estático, fronte erguida

Reconheço enfim solenemente

Que tudo em mim é fé perdida

Na solidão tristonha de um poente

 

E tu que minha alma amargura-te

Não me deixes só um só momento

Redime esta amargura que causaste

Não afastes de mim teu pensamento

A fonte do amor tu a secaste

Com rubras labaredas, vão tormento

Mas as feridas abertas que deixaste

Só em teu corpo causaram sofrimento

O meu já nada o pode magoar

Venceu o desalento a feroz dor.

 

Tudo ofereço, tudo dou...Sem poder dar

Apenas para merecer o teu amor

Mas só ouço a tua voz a murmurar:

«Amigos, amigos por favor...»

E nada mais de ti posso esperar.

 

Esmaga, estrangula, esfrangalha

O que ficou da vida que eu vivia

Do passado não deixes nem migalha

E um dia, quando já nada restar

Quando só cinzas houver do que te amou

Sentirás remorsos de acabar

O que um dia outra mulher começou

 

Não me lamentes, segue antes teu caminho

Eu ficarei à espera eternamente

E se a outro ofertares o teu carinho

Ao beijá-lo nos lábios docemente

Recorda aquele que ainda está sozinho

E que da vida se afasta lentamente.

 

Na solidão tristonha de um poente                            

O destino quase tudo me levou

Queimou a fé e a esperança em fogo ardente

E de ti só a saudade me deixou.

 

Guta Saqntos