sexta-feira, 18 de maio de 2007

Campo Grande

Esta eterna nostalgia
Das flores do Campo Grande
Refina com a idade
Ande a gente por onde ande
Nos deixa a alma vazia
Roídos pela saudade

Guta Santos

Vila Mira

No Campo Grande, no antigo n.º 141, de que resta apenas, a soleira da porta da casa com
arco , que dava acesso à demolida Vila Mira (hoje uma fileira de eucaliptos da alameda de entrada na Cidade Universitária). Era a modesta morada, de mais de uma centena de gente pobre. A grande maioria, peixeiros e peixeiras, ( as celebres varinas e varinos de Lisboa ) oriundos da zona vareira de Ovar e que zarpavam da ribeira, com as canastas repletas de peixe fresco, chinelando nas suas chinelas de trança (quando não descalças) .—Olha a pescada do alto, quem quer mercar. Oh freguesa venha abaixo. Olha a ramelosa! se calhar querias que eu fosse lá acima...Guuuulosa....!. De serralheiros, sapateiros, floristas, calceteiros marceneiros, costureiras ourives, floristas, pedreiros e um sem numero de profissões humildes e mal pagas, gente pobre, alguns no limiar da indigência, mas que se pautavam pela honradez e sempre dispostos a ajudar o vizinho. Nunca as portas das casas se fechavam, algumas nem fechadura tinham. Ainda hoje, mesmo dispersos, obrigados a abandonar as suas casas, demolidas para aí se construir a Cidade Universitária, se consideram, não simples vizinhos, mas membros de uma enorme família. De uma solidariedade que hoje já não existe. Podiam bulhar uns com os outros, mas ai de quem viesse de fora, bolir com aquela gente.
Muito mais haveria a dizer do nosso berço; Cada pedra cada banco do Jardim do Campo Grande, cada árvore, (muitas já eram velhas quando nascemos) a escola, os lagos... enfim, um sem numero de enormes nadas, que nos obrigam a amar aquela terra, aquele cantinho no antigo termo de Lisboa.

O José Simões (Zezinho) . Recorrendo à sua memória e com a ajuda de alguns antigos moradores , agora a residir no Bairro Dr. Mário Madeira na Pontinha –Odivelas (.Para onde foram deportados) , Numa manifestação da enorme saudade que o Campo Grande em todos deixou, Resolveu reconstituir, porta por porta, toda a população residente à cinquenta anos atrás .
Não quis deixar de contribuir, com a minha modesta participação, para este trabalho, juntando-lhe também alguma mal alinhavada prosa e um soneto, inteiramente dedicado à bondosa Sr.ª D. Alice, a professora de muitos de nós e as minhas magoadas recordações. Digo magoadas porque não as consigo lembrar, sem aos olhos me assomarem as rebeldes lágrimas que não consigo evitar . Ainda hoje passados cinquenta longos anos não há um único ex-morador, que não sinta um apertado nó na garganta, quando o destino o leva de novo ao seu Campo Grande. Prova evidente do descuido de quem governa, que não leva em conta os sentimentos de um povo, abruptamente obrigado a deixar as suas raízes. Ali bem perto, nascia o Bairro Alvalade, que se foi enchendo de moradores, vindos de outros (Pateos Mira) digo eu!? Nós fomos desterrados para a Pontinha , só à pouco viemos a saber, que o Bairro Dr. Mário Madeira nos albergou como indigentes !? espanto dos espantos. Pobres sim. Mas indigentes ?... Indigentes eram os que nos desterraram. Indigentes de inteligência, de bom senso e de outras coisas que nem me atrevo a referir. Mas siga a música porque.........

Ao cimo do Campo Grande
Há duas pedras acentes
Uma é dos namorados
Outra é dos padecentes

A Guarda Republicana. Pois é
Anda a cavalo e a pé. Pois é
Gosta de molhar a sopa. Pois é
Nas costas do pobre Zé.
Assim é que é.

Estes simples versos , cantados nas danças de roda, durante os santos populares são
uma paupérrima amostra, das inúmeras cantigas cantadas nestas festas.

Tantas libras
E eu estou livre delas
São amarelas
São de cavalinho
São leais ao meu amor
São leais ao meu benzinho.

Um grupo de jovens de ambos os sexos, perfilavam-se frente a frente: Raparigas de um lado, rapazes do outro. Combinavam entre si, qual o par que iriam escolher, é claro que um sexo não sabia a escolha do outro.
Todo o grupo cantava marcando o ritmo com palmas: Tantas libra e eu estou livre delas............

Um dos moços , saía então da fila, batendo palmas, progredindo em pequenos passos ritmados, dirigia-se à moça que anteriormente havia escolhido. Na sua frente fazia uma pequena vénia, convidado-a a sair a dançar. Esta, se
o pretendente não fosse o escolhido anteriormente combinado entre elas, ostensivamente, voltava-lhe as costas e o moço, desiludido, regressava ao seu lugar. Logo outro repetia a cena anterior, se a escolha coincidia , a moça saía a dançar, as vozes e as palmas subiam de tom e o par ia ocupar o lugar na fila masculina. Depois de todos os rapazes, cumprirem o ritual, é evidente que devidamente emparelhados, estavam agora os pares coincidentes, os outros ....
paciência !

Estes jogos de sedução, serviam para moços e moças aquilatarem da possibilidade de um namoro. Saber se agradavam e a quem agradavam. Uma subtil sondagem que tantos casamentos originou, a par de não poucas desilusões.

É Campo Grande que vai a passar
Fatos garridos, arcos e balões
É Campo Grande que vai a passar
Com suas damas e foliões.

Este era o refrão da nossa marcha, inteiramente preenchida pela juventude da época.
Sem ajudas oficiais de qualquer espécie, desde os fatos aos arcos e até o simples pau com um balão na ponta. Eram os residentes da Vila Mira, que tudo construíam à sua custa. Até a vila, nessa altura era engalanada com bandeirinhas de papel e as enormes folhas de palmeira, previamente cortadas no jardim.
No dia de Santo António, depois do desfile local,. rapazes e raparigas, iam lavar a cara, enfarruscada ao saltarem a fogueira e na queima da alcachofra, no chafariz (hoje desaparecido) no lado nascente do Jardim do Campo Grande.
Muito fica por relatar. Talvez um dia me sinta com coragem de o fazer.
É este o testemunho do José Augusto (Guta para os amigos) Filho da Suzélia e do
Américo Sapateiro, neto dos inesquecíveis Augusto Migas e Ti Germana.


ONDE ESTAIS ?

Quem não lembra com ternura, com saudade.
Os banquinhos da escola, a tabuada,
Aquele loiro amor de tenra idade
E alguma bem merecida réguada.

A minha querida amiga...Quase mãe.
Que as primeiras letras me ensinou.
Oh ! Saudades imensas, quem não tem ?
Até das ponteiradas que apanhou.

Quem pudesse voltar de novo à escola,
Ao passado feliz, à doce infância...
Com a malta no recreio, jogar a bola.

Ho! queridos companheiros, onde estais ?
Já vos perdi na bruma da distância
E a quantos de vocês, não verei mais

Guta Santos


Esta é a minha modesta participação neste trabalho. Tudo o que vem a seguir , deve-se ao empenho e paciência do Zé Simões (Zezinho) o filho da Adelaide Florista e do Eduardo Simões (Eduardo Camião) .

Na Vila Mira (Pateo do Mira) era assim:

No n.139 do Campo Grande havia uma escada, que dava acesso ao lº andar existente sobre o arco, moravam:

A D. Emilia, a dona da casa, a D. Fernanda, mãe do Chico (Mendões), D. Laura e o marido o
Sr Joaquim, pais do Ramiro e da Elisa (Hospedes) Existia nesta habitação uma porta que dava acesso à varanda
abaixo descrita.

A meio , do lado direito e distanciadas entre si por cerca de 50 metros, existiam três escadas
que davam acesso á comprida varanda que acompanhava todo o comprimento da vila e que teria
mais de 150 metros. Nesta varanda, que vamos inumerar por portas, por ser difícil recordar exactamente
o numero que cada porta tinha efectivamente, moravam:

1ª-- Natividade e marido, O Sr. Francisco Oliveira, e os filhos Zé Manel e Zé Luis, a Tia Orélia
O Pinau e os filhos João e Luis, Adolfo, António (Soéro), Zé Oliveira e a Eva,
mãe do Júlio das Bicicletas, ainda o marido o Manel (Direitinho)

2ª-- O Sr. Joaquim Baptista (Augusto Migas) , um dos poucos naturais de gema do Campo Grande, a mulher, a Ti Germana, (Ribatejana). Pais da Julieta, Tininha, Suzélia, Maria, conhecida por Maria Augusta, (Apesar de ser simplesmente Maria) mãe do Jaime e da Iria e mulher do Jaime Pais, aqui
também residentes, embora por pouco tempo.

3ª-- A Tia Virgínia (Viúva) e as filhas: Maria Helena, Lucinda e Guilhermina

4ª--Zé da Rosa e mulher, D. Etelvina, o filho Manuel (Tochinha) e a filha Lurdes.

Depois de alguns degraus, a primeira escada e a seguir na varanda um pouco mais elevada:

5ª-- Carlos Ourives a mulher, a Ti Filomena e o filho o Carlos Alberto , que casou com a irmã
do Victor Salgado, filhos do Chico Salgado e da D. Angélica , proprietários da mercearia que tinha uma
porta de serviço debaixo do arco do pátio.

6ª--Manuel Branco e a Mulher Joaquina, que tinham por hospedes a Maria da Conceição e a filha
Maria Fernanda (A coxa)

7ª--A D. Elvira e o Ti Manel (os Procuradores do pátio)

8ª--A Ti Teresa e o marido, o Ti Adolfo (Calceteiro) e o hospede o Zé Manel

9ª--D. Fernanda e a sobrinha a Maria Olimpia

Depois do tapume que dividia a varanda:

10ª--O Sr. Augusto e a D. Albertina, pais do Augusto Ferreira (O Mocho) distinto poeta popular, autor de inúmeras letras de fados. marido da D. Clara e a sua filha Tereza.

Depois da escada que dava acesso ao segundo lanço de varanda:

11ª--D. Adelaide Castro e os filhos António, Madalena e Maria

12ª. –A Cândida o irmão Albino e a filha Elizabete (Betinha).

13ª--Eduardo Simões a mulher Adelaide Florista, José Simões (Zé Camião) e a Tia Rosa e a descendência, José (Zezinho) e Maria Amália (a Cigana)

14ª--Américo Sapateiro, a mulher D. Suzelia e os filhos Jose Augusto (Guta) e Maria Carmen

Depois do tapume e com acesso através da terceira escada:

15ª--João Maria (J. Peixeiro) e a mulher Diolinda (D.Peixeira) os filhos Mário (Marocas), Clementina, e o Victor (Carrodine).

16ª--Ti Aurora o marido Ti Jorge e os filhos , Vasco, e a mulher Maria José e o irmão António Cristo

e ainda os netos Zé Jorge, António Zé, (Tozé), (Borrié) ou o (Canina), Filipe, Victor, Quim Manel, (Quinel) e a Lurdes.

17ª--Rosa do Salsa e o marido António Salsa (barbeiro, Enfermeiro) e acima de tudo um grande tocador de viola de fado, com a qual acompanhou grandes fadistas. E ainda as filhas Fernanda e a linda Irene.

Depois da porta da escada

18ª--Zé Maria (Serralheiro da Ferraria Franco) a mulher Julieta, os filhos Luiz Filipe, Lena e Berto

19ª--Ti Artur ( Carroceiro das carretas funerárias da Agencia Salgado) a mulher Tia Angelina, e os filhos
Georgette, Zé Borracha, Pedro, Georgina e o Catarino. «Tanta gente numa só casa , mas há pior».

20ª--Carminda e o marido Américo, os filhos , Tereza e Cipriano e ainda as duas irmãs,Lourdes e Celeste

21ª--Sebastião e a mulher Lúcilia e um filho, que é o bébé que o Vasco Santana traz ao colo no filme
«Pátio das Cantigas» o Sebastião. «Neste filme poucos são os garotos do pateo, que não trabalharam como figurantes a troco de uma fatia de pão com marmelada: Um luxo

Nesta casa foi mais tarde morar a Lucinda, filha da Ti Carrôa e o marido o Manel Polícia.

Vamos voltar ao «Arco» e começar pelo lado direito, casas que ficavam por debaixo da varanda
antes referida. Assim voltamos ao numero 1

1ª Porta e por debaixo do arco: Porta de serviço da mercearia da D.Angélica e onde mesmo fora de horas os moradores da vila se aviavam.


1ª--(A)—Tio Armando (almeida.) Nome porque eram conhecidos os empregados da C.M.L. que tratavam do lixo) e a mulher D. Emilia e o filho Augusto (O Cocho) Por vezes, mas sem maldade, as alcunhas
eram um pouco crueis.

2ª--Zé Vadio (Cortador) e a Mulher a D. Maria. Pais do Zé Fernando, da Iria e da Diolinda. Posteriormente foram morar para a Rua da Beneficência.
Mais tarde a casa foi habitada por Manuel Bombeiro e a Mulher D. ,ainda o filho do casal o Carlos Manuel (Camané) depois de enviuvar o Sr Manuel casou com outra Senhora, a D.Judite de que resultou uma filha a Eduarda , esta senhora tinha uma irmã, que morava junto a Izabel.

3ª--Tia Maria José (a Ti Maria das Castanhas) ou (Quintinhas e Boas)

4ª-- Depois da primeira escada: O Raúl Aroles (Mecãnico de bicicletas) e a mulher Mariana (A Nabiça)
os filhos Eduardo e a Hortense

5ª Uma velhota A Ti Emilia, vendedora de pevides tremoços e outras guloseimas, figura típica desta Lisboa e bem conhecida dos furiosos da bola que no regresso dos jogos eram os principais clientes. Era irmã da Tia Porfiria do Tio Doro e da Henriqueta.

6ª--Tio João e a mulher a Etelvina, pais do Edgar da Zélia e da Eulália

7ª--Oliveira Vieira (Futebolista) e a mulher D .Elvira pais do Carluxa.

8ª--Diolinda da Faustina, a irmã Ivone, marido Augusto (O Espanta) Benfiquista furioso. Pais do José, Arnaldo, Carlos e uma filha a Manuela .

9ª-- Ti Iria , Zé Precioso (Zé Valente) a mulher a Tia Felismina a Barbara filha da Felismina , O Fernando (Agora a residir em Macau) e a Glória.

10ª--Tia Porfiria, o marido António Rafael (O Salsa) Pais do António Salsa e da Maria José (enfermeira)

11ª--Logo depois da segunda escada: O Toninho da Bomba (Um pouco deficiente) irmão do Carlos Ourives
Após a morte deste e depois de casada , a Barbara veio a morar nesta casa com o marido Joaquim que era de
Telheiras e que tiveram dois filhos o Marinho e o António Zé . Posteriormente nesta casa e no recanto junto ao poço
aí existente, eram guardados os equipamentos do Glorioso Desportivo do Campo Grande.

12ª-- O Ti Justino e a mulher a Ti Beatriz pais da Diolinda, António, Justino, Luiz, Palmira e a Rosa, mulher do Manuel Galego (Filho da Ti Dolores da carvoaria.) e galego de origem , e o único filho,António Muiños, (O Peida Gadocha)

13ª Maria da Luz (A Carrôa) ,mãe do Álvaro, Joaquim (Losa) , Mario, Américo,Lucinda, Emilia, Judite, Florinda,
e a Manuela que era filha do Ti Pardal

14ª--Ti Ana Varina, mãe do Clemente e do Albino

15ª--Manuel de Jesus e mais tarde, A Ti Ressurreição mãe do António Gomes (O Risonhas)

16ª--Ti Felizarda e os irmãos Alfredo e Fernanda é mãe do Chico Barbeiro e avô do Jacinto e da Fernanda.

17ª--Ti Luís Leiteiro e a mulher a Ti Maria Leiteira pais do António, João, Álvaro e da Raquel

18ª--Ti Judite (operária têxtil) e Tia emprestada do Diamantino,do Amadeu, do Júlio, que
esta santa mulher ajudou a criar, sobrinhos sim, do seu único amor: o fadista Diamantino de Palma de Baixo, ainda a Guida, que ela recolheuem casa ainda bebé.
Se houver céu, esta mulher está lá concerteza.

19ª--Álvaro Carrão morava nesta casa com vários irmãos, acima descritos e que foram saindo conforme iam casando ou mudando de vida.

20ª-- Ti Maria Ramos, mãe do Carlos Ourives e mais tarde o Joaquim das Ovelhas que vendia os seus queijos a todos os moradores do pátio.

Vamos voltar de novo ao «Arco» e começar a contagem desta vez do lado esquerdo.
Debaixo do arco existia um poço, encrostado na parede convenientemente tapado e que servia para as mães
dizerem aos filhos--: Se não te portas bem vais para o poço escuro.--. Daí o grande mistério que este poço exibia,
mas não consta que alguma vez qualquer criança tenha ido parar ao poço.


Seguia-se uma correnteza de casas térreas, assim descritas:


1ª--Tia Virgínia, mãe da Etelvina e avó do Edgar. e o filho o Zé Engeitado

2ª--Diogo Peixeiro e Alice Peixeira e a Gertrudes (Chorona)

3ª--Ti Maria Augusta (Peixeira)

4ª--Ti Aurora (A Cocha) Mais uma...!

5ª--A Noiva (vamos lá saber porquê) e o marido O Ti Alberto, que estranhamente ninguém chamave o (Noivo)

6ª--João Sapateiro e a mulher a Tia Alice mãe do Zé Manel, (Padrinho de alcunha do Guta) e do António Vidal

7ª--Euleutério (Policia) mais tarde O António Cristo a mulher a Maria Simões e os filhos eram, a Maria da Conceição, Manuel Castro e o Raul Castro.

8ª-- Perpétua (Peta) e o marido Manuel da Machada (Filho da Ti Machada e irmão do Chico da Machada
um dos valentões da época, sempre pronto a defender os mais fracos, vindo a morrer, consequência dos espancamentos
policiais

9ª--Maria Lourenço (Ladicha) e o marido António Maluco (Serralheiro) e os filhos Armando,Fernando e Miguel

10ª--Tia Margarida Vidal e os filhos António Vidal, (Fadista humorístico)Artur Vidal, Raul Vidal (Poeta Popular)
e as raparigas Lurdes e Iria (Peixeira) que ficou a morar na casa ao lado da mãe. Entre estas duas portas ficava o chafariz comunitário . Era também mãe do Joaquim Bombeiro

11ª--Tia Palmira que era mãe da Carolota , da Madalena e do Armelim

12ª--Ti Maria Cereja

13ª--Ti Pedro e a mulher Tia Georgina , pais do Alberto e da Esperança, a irmã Adelaide Vaz e o marido o Ti Panhó

14ª-- Diolinda e o marido Irmão da procuradora o Sr. Manuel

15ª--Tia Assunção (varina) mãe do Américo e do Jaime

16ª--Mariazinha dos Caracóis, o marido Joaquim Vidal (bombeiro) e o filho o António Miguel.

17ª--Sr. Américo Filho da Tia Assunção e a Mulher Dona Guilhermina.com a filha a Belinha, hoje
distinta Advogada a dirigir um Hospital nos Açores.

18ª--Chico Miragaia ( canalizador e irmão da Cândida) e a Mulher Cristina, pai do João Miragaia e do Sebastião

19ª--Adelaide da Pataca

20ª--Tia Maria Calada (Mãe da Peta do António Lopes e do Albertino) Numa porta independente desta casa , tinha o Leopoldo e a sua mulher Perolinda a oficina de alfaiate, que posteriormente passaram para o lado nascente do Campo Grande, no prédio ao lado da igreja e que ainda hoje funciona gerido pelo filho de ambos,o Zé Carlos

21ª--Tia Beatriz e marido Sr. Antero ( Parece que este casal morou na casa onde posterirmente habitou a Maria dos Caracois, era funcionário dos telefones , para onde levou muitos dos habitantes do «Pateo»

22ª--Ti Maria Africana mãe do Manuel e da Elvira

23ª--Tia Albertina ( da Rosca), o marido Joaquim.e os filhos, António,Alvaro,Armando,Raquel,Idalina , Dália e Ventura.

24ª--Tia Filipa Peixeira mãe da Maria Rosa, Deolinda, (Mãe do Zé do talho, da Maria, da Guilhermina e do Sebastião), da Aurora (mãe da Maria Adelina) e ainda do Rui.

25ª-- No topo do pátio e denominado «O Quintal» onde existia uma bela figueira » A Dona Emilia
e o marido o Manel pintor emp. da Carris. tinham duas filhas a Judite e a Teresa.

E assim termina esta longa descrição fruto da teimosia e excelente memória do Zé Simões
que para nós, por mais velho que esteja será sempre o Zézinho. embora no sítio onde reside o conheçam agora
pelo Zé da Lila , também ela do Campo Grande mais propriamente da Estrada de Malpique (Hoje Rua
João Soares pai do Dr. Mário Soares.


Pronto, aqui está a obra. Poderá sofrer de algumas inexactidões que são normais após tantos
anos, por isso pedimos desculpa . Saímos do Campo Grande em plena juventude; Perto dos vinte, e corremos velozmente neste ano de 2007 eu (Guta ) para os 71 e o Zé para lá caminha, razão mais que suficiente para merecer a vossa benevolência.


Gente do Campo Grande, onde quer que estejais, este foi um trabalho feito com muito
amor e saudade , para gente como esta nunca chegará o:

FIM

Ps: Família do António Salsa, Irene, Fernanda do Salsa ou descendentes tentem contacto.

sábado, 31 de março de 2007

Não Senhores. Não!

Oh! Senhores. Ouvi, escutai
O ribombar dos canhões
O fragor de mil granadas
Mil fogos, mil clarões.
Escutai crianças chorando
Faces roxas, maceradas.
Ai! quantos pais soluçando
E quantos velhos rezando
Pela paz mil orações.

Tanto sangue derramado,
Tanto jovem mutilado,
Tanto amor sacrificado
No altar das ambições.

Ho! Senhores, Senhores!
Escutai gritos lancinantes
Entre a impiedosa chuva da metralha.
Olhai a imensa câmara de horrores
Centenas de seres agonizantes
Vitimas inocentes da batalha.

Senhores, Senhores!
Vós que pisais chão alcatifado
De majestosos, quentes gabinete.
Governo deste mundo alucinado.
Vós . Que fazeis da raça humana marionetes.
Lembrai-vos que a vida é fugidia,
Também para vós a morte marcou dia
A sua foice afiada não tem dó
Em breve não sereis mais do que pó.
Vós que na terra brilhastes como Sois
Mostrareis no Alem a valentia.
Vós na vossa consciente covardia,
Ordenastes aos outros: «Sede heróis!»

Não Senhores. Não! Por piedade...
Que sejam do arado os sulcos da Mãe Terra!
Deixai viver em paz a humanidade,
Que jaz prostrada , enfim farta de guerra.


GUTA SANTOS 7-1-1972

Tarde na Praia

O Sol no mar reflectido
Tinge de oiro a branca espuma
De majestosas ondas altaneiras
Viajando de longe e uma a uma
Vão rebentar na praia, fragorosas
Abafando na areia o seu rugido

Enquanto a tarde cai e a luz se esfuma
Meus braços nos teus braços são cadeias
Grilhetas de almas misteriosas
Tementes de se verem separadas

Suave nos afaga a brisa amena
A sede matei em tuas lágrimas
Regatos de água cristalina
Dolorosa visão de dores sentidas

Meu remorso, meu pecado, minha vida
O mar salgado...imenso, testemunha
Minha ventura da morte renascida
Ai! Um amor assim nem eu supunha

Reclino a cabeça no teu peito
No teu regaço afogo os meus segredos
Enquanto o coração, quase de dor desfeito
Bate feliz, esquecendo horrores e medos

De tudo antes descrentes, já sem fé
Vão meus lábios os teus lábios procurando
Como náufragos perdidos na maré
A ilha salvadora vão buscando

O teu olhar gaiato desatina
Acorda a minha carne, os meus desejos
Que o pudor à saudade nos condena
E resta para amar, ardentes beijos
.
O mar afaga a areia suspirando
Orgulhoso do amor que abençoou
Nas suas verdes águas embalando
Os sonhos de uma tarde que findou

Guta Santos

Se Deus Existe

«Paizinho, Paizinho. Hoje é Natal !?
Foi este o grito alegre e cristalino
Que brotou espontâneo, alegre e natural
Como sino de aldeia matutino.
«Que me deu desta vez o bom menino ?
Quem me dera que fosse aquele barco grande...
Ou...Mesmo aquele...Assim: Mais pequenino!»

Tenaz onda de dor meu corpo invade,
Quentes lágrimas , da face deslizando,
Abandonam meus olhos com saudade.

Em frente a mim, atónito, pasmado
No rostinho traindo um fundo espanto
Suas mãozinhas aperta magoado
Sem atinar com a razão deste meu pranto,
Meu filho quase chora e fica ali parado.

Meu é filho é feliz. Tem pai, tem mãe.
Tem ainda esperança e fé no Deus Menino
Mas quantos por ai há que nada tem
Vitimas do Mundo ou do destino.

Que razão condenou tanto inocente,
Que pecado mereceu tal desamor?!
“Se há no Universo um Deus omnipotente,
Que lhes dê neste dia paz e amor!


GUTA SANTOS «Todos os Natais»

O Baile

Entre agudos gritos
E penetrantes sons
De música electrónica
Que ora nos embala
Que ora descontrola,
A voz do vocalista
E a velha que nos fita
No canto mais escuro
Daquela sala

Os rostos colados
Os corpos bem juntos
Em feixe, apertados
Olhando sem ver
os que em frente estão...afogueados
Deste mundo de vivos apartados
Dançando, ou julgando que é dançar

O conjunto toca sem parar
A melodia é doce de ninar.
Os corpos estremecem de prazer,
Deixando-se embalar
Enleiam-se penetram-se,
Desejam mutuamente possuir-se.

Magoa olhar à nossa volta
E ver amor passar de mão em mão
Magoa sentir que se está só
Mesmo abraçando alguém na multidão

O baile acabou
A velha não ri
E naquela sala
Quem sonhava acordou.
Nem cantos gritados
Nem sons sincopados
De sons de guitarra.
Desfazem-se amarras
Que os corpos juntou

No velho sobrado
Dorido, pisado,
Vai juntar-se pó.
E eu volto para casa
Mais triste mais só.

GUTA SANTOS

Retrocesso

Quão fútil és humanidade
Tão mal empregas teu dom de racional
Tirana e egoísta ,maldosa, brutal
A inveja à disputa com a vaidade

A ganância de garras afiadas
Descansa a fronte nos seios da luxuria
Seus beiços, escorrendo babas destiladas
Nos alambiques da miséria e da incúria

Mulheres nuas desvariam políticos bem vestidos
Estoiram bombas escandalosas, revelam-se segredos
Alvas carecas senis e desdentados
Rematam em leilão, a honra dos estados.

Em recepções, festanças, em banquetes
Dão-se fraternais abraços venenosos.
Alargando as bochechas em sorrisos
Falam de paz em miados talentosos.
Enchendo seus ventres asquerosos
Assinam pactos, exaltam alianças,
Prometem vastos mundos de abastanças
Alimentam ódios, semeiam esperanças,
Ordenam sem rebuço vãs matanças,
Bebem sangue quente em belas taças
Comem carne humana em pratos de oiro...
Escarnecem povos, credos raças.

Aves de mau agoiro,
Que lá do seu poleiro
Fomentam ou sufocam revoluções
Por sadismo, ambição, dinheiro.
Erguem ou destroçam as nações
Levando guerra e morte ao mundo inteiro
Indiferentes, esfrangalham corações.
Óh! Humanidade decadente
Tuas chagas e feridas são eternas
Só tornarás um dia a ser decente,
Se voltares novamente p’ras cavernas..,

GUTA SANTOS 1964

Chorei Sim

Estive ontem na praia
Um dia mais findava
O disco vermelho do Sol
Aos poucos se afogava
Para lá do mar
Numa agonia lenta

A noite despontava.
Sentado na areia
Contava as ondas
Que uma a uma
Vinham morrer-me aos pés.

A última gaivota
Soltou no ar agudo grito.
Ao longe, uma traineira ia p’ra faina
Os pescadores dispersos
Fumavam no convés

O murmúrio do vento
Fazia-me sonhar
Espalhando-me os cabelos
Que agressivos
Me espancavam os olhos magoados
Cansados de chorar
Chorar sim...! E porque não?
Eu tinha-te perdido
E até a esperança
De um dia te encontrar

Corriam-me das faces
Doloridas, quentes lágrimas
Salgadas como aquelas ondas que eu olhava
E via-te
Cavalgando aquela mais crescida.
Os cabelos soltos
Um riso de criança
Os braços bem abertos
Correndo à desfilada.
Nos lábios...O meu nome
Nos olhos...Mil promessas

Meu corpo estremecia
No peito o coração
Batia a descompasso.
Teu nome...Mais um grito
Da boca me saía.

Porém aquela onda rebentava
Em rendilhados brancos de noivado
Em convulsões de pranto desatado
E só espuma ao pé de mim chegava.
A tua imagem querida...Já não via.

Quando a fria agua me lambia os pés
Numa caricia meiga mas gelada
Compreendia com horror e mágoa
Que não eras tu quem me chamava.

A ti pouco te importa a minha dor
Mas diz amor...!
Num desespero assim...
Quem não chorava.

GUTA SANTOS
1976

Poente de Amor

No horizonte fatal da minha vida
O Sol vai-se pondo docemente
E eu estático, fronte erguida
reconheço enfim solenemente
que tudo em mim é fé perdida
Na solidão tristonha de um poente

E tu que minha alma amargura-te
Não me deixes só um só momento
Redime esta amargura que causaste
Não afastes de mim teu pensamento
A fonte do amor tu a secaste
Com rubras labaredas, vão tormento
Mas as feridas abertas que deixaste
Só em teu corpo causaram sofrimento
O meu já nada o pode magoar
Venceu o desalento a feroz dor.

Tudo ofereço, tudo dou...Sem poder dar
Apenas para merecer o teu amor
Mas só ouço a tua voz a murmurar:
«Amigos, amigos por favor...»
E nada mais de ti posso esperar.

Esmaga, estrangula, esfrangalha
O que ficou da vida que eu vivia
Do passado não deixes nem migalha
E um dia, quando já nada restar
Quando só cinzas houver do que te amou
Sentirás remorsos de acabar
O que um dia outra mulher começou

Não me lamentes, segue antes teu caminho
Eu ficarei à espera eternamente
E se a outro ofertares o teu carinho
Ao beijá-lo nos lábios docemente
Recorda aquele que ainda está sozinho
E que da vida se afasta lentamente.

Na solidão tristonha de um poente
O destino quase tudo me levou
Queimou a fé e a esperança em fogo ardente
E de ti só a saudade me deixou.

Guta Santos

Poema Incompleto

Mãe !? Queria escrever-te um poema,
Pleno de palavras novas, inventadas
Mas não acho talento; Dor suprema !?
E só encontro estas; Vetustas, já usadas. 
Queria dar-te o que em vida pouco dei. 
Mais que amor, ternura... 
É longo o rol, 
Tanto tu mereces, que não sei, 
Se bastará dar-te a lua e a luz do Sol. 
Mereces tudo isto... e muito mais. 
Pobre de mim, não sei o que fazer... 
Como pagar as rugas que te fiz,   
A dor de me parir e outras mais. 
Sei só que a forma de merecer, 
A vida que me deste...
É ser feliz.

 GUTA SANTOS Abril de 2005